Entre o chão e o céu existe um abismo é o espetáculo de formatura da turma 73 da Escola de Arte Dramática (EAD). A obra foi dirigida por Miguel Rocha, diretor da Companhia de Teatro Heliópolis, e traz visões distintas sobre o tema da violência e dos aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos que a cercam.

A peça está em cartaz de 16 a 22, e de 25 a 29 de julho, no Teatro Laboratório da ECA. As apresentações acontecem de segunda a sábado, às 20h, e aos domingos, às 18h. A entrada é gratuita, com a retirada dos ingressos uma hora antes do início do espetáculo.

“É sempre estimulante e desafiador criar a partir das diferenças e de experiências singulares: assim foi o encontro com a turma 73.”

Miguel Rocha, integrante da Companhia Heliópolis e diretor convidado do espetáculo

A violência em cada um

O tema da violência aparece a partir de várias perspectivas e abrange questões muito contemporâneas. A peça não possui um arco único:  os pontos de vista das mulheres, da orientação sexual, da negritude e de outros sistemas atravessados pela violência fazem parte do espetáculo.

“A violência na peça é latente, pois, além de se concretizar todos os dias, a todo tempo diante de nossos olhos, dentro de nós, naquilo que sofremos e naquilo que também praticamos, ela é um instrumento de espetáculo, de entretenimento social preenchida de cinismo e consumo dos nossos corpos.” 

Rafael Neves, estudante da turma 73 

O tema foi uma proposta do diretor, que trabalha em uma pesquisa de longo tempo, buscando entender o processo da violência no cotidiano, nas relações e no território, e como ela impacta o processo criativo. Miguel conta que viu uma oportunidade de trabalhar o tópico ao se deparar com um elenco de origens e vivências muito plurais. “Quando veio o convite, eu gostei muito, porque poderia se estabelecer um diálogo entre experiências distintas dos jovens que estão em processo de formação [...] acho que o resultado final é um trabalho polifônico com muitas vozes distintas, construído pelo processo em grupo”.

O diretor conta que o objetivo desse processo é criar a oportunidade de realizar uma produção colaborativa com os atores e atrizes, com partilha dos afazeres, desde a escrita até o figurino, dando a eles uma noção de como será produzir seus próprios trabalhos no futuro. 

Confira na galeria abaixo as fotografias tiradas durante ensaio do espetáculo:

Entre o chão e o céu existe um abismo

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Diretores convidados

O convite a diretores de fora da Escola para dirigir as montagens dos últimos semestres faz parte do projeto político-pedagógico do curso técnico de teatro da EAD, no qual a intenção é fazer circular pela Escola profissionais que atuam na cena teatral. Para Mônica Montenegro, diretora da EAD, “Ao mesmo tempo que essa prática coloca os alunos em contato com produtos mais próximos de produções profissionais com linguagens distintas, a gente permite a aproximação dos estudantes com linguagens teatrais mais específicas, complementando os ensinamentos adquiridos ao longo do curso.”  

Miguel Rocha é artista egresso do curso de direção da SP Escola de Teatro e um dos fundadores da Companhia de Teatro Heliópolis. O diretor e a companhia são conhecidos por seu método de criação colaborativa, no qual as peças são desenvolvidas com base nas histórias dos moradores da região de Heliópolis e nas experiências pessoais dos atores. A companhia também utiliza elementos da cultura afro-brasileira, samba, funk e do cotidiano urbano em suas produções.
 

Fim de um ciclo

Essa montagem marca o encerramento de um ciclo para todos os atores. Rafael Neves, estudante da EAD, fala em nome da turma sobre o peso da produção para os envolvidos: “A única certeza que eu sempre tive é que este grupo sempre teve algo a falar para o público [...] Essa peça significa muita coisa para nós, para este grupo, e vamos atravessar esta temporada em constante pesquisa e com muita dignidade pelo nosso ofício.”
 

Foto de capa: Amanda Ferreira/ LAC ECA USP.