Vídeo destaca atividades do Departamento de Música realizadas durante a quarentena
Registro foi concebido por funcionário e contou com a colaboração de toda a comunidade do departamento

No fim da primeira quinzena de março, ainda antes da Reitoria determinar a suspensão das aulas presenciais na USP, o Departamento de Música (CMU) começou a interromper atividades de coros e orquestras. Ao longo das semanas seguintes, enquanto a quarentena se impôs na cidade de São Paulo, professores, alunos e funcionários refletiam sobre como adaptar as práticas pedagógicas e artísticas para a nova rotina.
Fatores como as condições de acesso dos estudantes a bons equipamentos de gravação e internet de banda larga, aliados a pouca oferta de aplicativos de celular adequados para gravação e transmissão de sons emitidos por instrumentos musicais – a maioria dos apps disponíveis está otimizada para a voz humana – impediram a prática musical em concomitância. Para que todos os alunos pudessem executar uma peça em conjunto com outros instrumentos ou receber avaliações dos docentes, foi preciso abandonar o tempo sincrônico e abrir concessões para interferências do ambiente.
“A alternativa foi a troca de gravações, por celular, computador, para acompanhamento de alunos ou trabalhos mais experimentais, como fizemos com o GruMa [Grupo de Música Atual] onde experimentamos prática sem tempo sincrônico, considerando como positivas as presenças do ruído ambiente (barulhos da casa e da rua) e do digital”, explica o professor Silvio Ferraz, chefe do CMU.
Nessa nova realidade, a produção e edição de vídeos se tornou uma importante aliada, e muitos alunos assumiram essas funções para viabilizar as atividades de disciplinas e outros projetos de que fazem parte. Foi assim com o Comunicantus, com a classe de violinos, com o Percussivo USP e com várias outras iniciativas sediadas no departamento. Além disso, como tem ocorrido em outros departamentos da ECA e unidades da USP, as reuniões e webinários on-line gravados ou transmitidos ao vivo tornaram-se a principal maneira para continuar as aulas teóricas.
Ao assistir o Recital de Piano em Casa, Roberto Rodrigues teve a ideia de fazer um vídeo sobre as diversas atividades remotas realizadas pelo CMU durante a quarentena. “Compreendi que o Departamento de Música não se limita ao seu espaço físico. O CMU é, de fato, uma identidade viva, formada por alunos, professores, funcionários e comunidade, que responde com criatividade e invenção aos desafios da pandemia”, explica ele, que trabalha como técnico artístico do Laboratório de Percepção, História, Estética e Análise Musical (PAM). Com o auxílio da comunidade do departamento, que enviou os vídeos produzidos e colaborou com a edição de áudio, o registro foi concluído após quase um mês de trabalho e acaba de ser publicado no canal da ECA no Youtube. “Fiz o vídeo para os alunos”, diz.
“O vídeo, concebido e minuciosamente trabalhado pelo Roberto Rodrigues, revela a diversidade cultural/musical de nosso departamento e de forma sensível e abrangente mostra que o CMU, nesta pandemia, foi transferido para a casa de cada um de nós, ao mesmo tempo nos faz sentir que estamos presente naquele prédio vazio. O discurso se deu por meio da música, e o vídeo é um registro de um período que marcará nossas vidas para sempre”, afirma a professora Luciana Sayure. Sem deixar de considerar todas as dificuldades impostas pela pandemia e pelo isolamento social, ela acredita que os maiores desafios foram “fazer música à distância, manter a motivação da comunidade CMU e acolher, sobretudo, os mais vulneráveis.”
Para Silvio Ferraz, essa ideia de cuidado mútuo é uma das principais mensagens do vídeo: "é importante ter em mente um ponto que defendemos desde o começo: manter o contato entre as pessoas e fazê-lo usando a música. Que todos continuem em contato telemático, uns cuidando dos outros, como podemos. É isto que reflete o video”.
Já o professor Eduardo Monteiro acredita que o registro concebido por Rodrigues valoriza a capacidade de transformação do CMU para superar dificuldades. “Desde que entrei como docente no Departamento de Música, em agosto de 2002, foram muitos os momentos de luta e felicidade. Nesses tempos de tamanha adversidade, é muito emocionante ver nosso departamento se reinventando.”
Assista ao vídeo: