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Comunicação mais acessível dá autonomia a pessoas surdas em atendimentos 190

Artigo sobre a experiência E-SMS da Polícia Militar compõe a primeira edição da revista Interfaces da Comunicação

Vida acadêmica

Segundo dados de 2021 da Organização Mundial de Saúde (OMS), 1,5 bilhões de pessoas no mundo têm algum grau de surdez. Estima-se que até 2050 cerca de 2,5 bilhões viverão com algum nível de perda auditiva. No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), em 2019, cerca de 2,3 milhões tinham deficiência auditiva

A partir desses dados e da necessidade de pensar em outras narrativas para a comunicação, Ricardo Souza Barreto, pesquisador e tenente coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, produziu o artigo A Comunicação e suas novas narrativas: desafios e oportunidades no acesso aos serviços emergenciais 190 pelas pessoas com deficiência auditiva ou surdez

Segundo Ricardo, seu artigo tem como objetivo “chamar a atenção para o potencial da comunicação na acessibilidade do serviço de emergência, uma vez que a comunicação é um direito do ser humano”. 

O trabalho é resultado do estudo sobre o tema das novas narrativas da comunicação do Programa de pós-doutorado da ECA e faz parte da primeira edição da revista Interfaces da Comunicação.

 

Serviço de emergência 190 em São Paulo

Ricardo explica que, toda ligação para o 190 no estado de São Paulo  é direcionada para um dos Centros de Operação da Polícia Militar (COPOM), órgão responsável por gerenciar as emergências recebidas por ligações telefônicas. Ao todo são 11 centros para atender todo o estado. O COPOM/São Paulo, por exemplo, abrange 38 municípios da capital paulista e da região metropolitana. 

Serviço de emergência 190

É o número de telefone da Polícia Militar que deve ser acionado em casos de necessidade imediata ou socorro rápido. O 190 está disponível de forma gratuita em todo o território nacional.

O número de ligações é expressivo. Com base em informações do Centro de Comunicação Social da Polícia Militar do Estado de São Paulo, o pesquisador indica que em todo o estado, em 2019 e 2020, o serviço de emergência 190 recebeu cerca de 25 e 20 milhões de chamadas, respectivamente. Em 2022, apenas no mês de janeiro, foram registradas mais de 1,7 milhão de ligações, representando, aproximadamente, 55 mil ligações por dia e mais de 2 mil por hora.

 

De call center para contact center

 

A sociedade contemporânea impõe à comunicação o desenvolvimento de novas narrativas como condicionante para acompanhar a inovação e as mudanças tecnológicas. 

Ricardo Souza Barreto, pós-doutorando na ECA e tenente coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

Até 2012, o Serviço de Intermediação Surdo-Ouvinte (SISO) era responsável pela comunicação com as pessoas com deficiência auditiva ou surdez. Na técnica, o atendente do SISO tinha como função intermediar a conversa entre a PCD auditiva ou surdez e a pessoa com quem ela desejava se comunicar. Para isso, usava-se um aparelho telefônico, Telephone Device for Deaf (TDD), pelo qual era possível digitar e ler a transcrição do atendimento.

Foi somente depois que a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo foram promulgados no Brasil, em 2009, que o país passou, na opinião do autor, a ter “bases sólidas para a elaboração de uma política nacional para a integração da pessoa portadora de deficiência”.

A partir da necessidade de que a comunicação em situações de emergência não tivesse intermediação de outras pessoas, surge então o E-SMS, serviço de mensagens curtas, destinado exclusivamente às pessoas surdas ou com deficiência auditiva, em que a interação acontece por meio de mensagens de texto. 

Capa da revista Interfaces da Comunicação. A imagem tem fundo amarelo e verde. Do lado direito há a ilustração do perfil da face de uma pessoa, parte dela está fragmentada. O rosto é preto, com pontos iluminados de verde e amarelo. Os fragmentos são pretos, vermelhos, verdes e amarelos. No lado esquerdo da imagem, os títulos dos artigos estão dispostos em lista.
Capa do v.1 n.1 da nova revista da ECA, Interfaces da Comunicação. Imagem: reprodução/Portal de Revistas da USP

Esse recurso foi implantado em 2012 e fez com que a comunicação de emergência não se restringisse mais às ligações, o que refletiu em maior autonomia para a parcela de PcD auditiva ou surdez. A mudança no serviço foi aprovada pelos usuários: Ricardo aponta que 55% das PCD auditiva ou surdez já precisaram acessar os serviços emergenciais; desse percentual, 90% preferiram o uso de E-SMS em vez do SISO

Segundo o pesquisador, até o mês de julho de 2022, o E-SMS contava com 1.700 usuários cadastrados, um número ainda modesto, segundo o autor, se comparado ao total de pessoas com deficiência auditiva ou surdez no município de São Paulo. O acesso ao serviço é feito pelo site da Polícia Militar, pelo uso de login e senha. Antes da etapa virtual é necessário o cadastro de forma presencial nas unidades da Polícia Militar habilitadas

Para o pós-doutorando, além de aperfeiçoar e dinamizar o processo de comunicação de emergência, o projeto também contribuiu para reduzir a discriminação das pessoas com deficiência auditiva ou surdez

“O serviço E-SMS é um exemplo de que a comunicação guiada por suas novas narrativas detém a capacidade de aperfeiçoar a inclusão social e a erradicação de todas as formas de discriminação por motivo de deficiência, raça, religião e gênero”, indica Ricardo.

 

Revista Interfaces da Comunicação

A revista Interfaces da Comunicação é a nova revista da ECA. A publicação semestral foi lançada pelo Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN) do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo (CRP), e tem como objetivo “ampliar a área de estudos sobre as novas percepções, criações e utilidades do conceito de narrativas”, além de promover reflexões sobre o tema na contemporaneidade. 

A primeira edição da revista conta com temas que abarcam as narrativas de pessoas com deficiências, comunicação institucional, pós-verdade, relações públicas, hiperconexão, influência e consumo. 

A íntegra da edição pode ser acessada no Portal de Revistas da USP.

 

 


Imagem de capa: reprodução/Freepik