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Quem são os ecanos no Oscar?

Conheça egressos da ECA que votam na premiação; cineasta Mauricio Osaki e professor Carlos Augusto Calil comentam importância do Oscar e presença internacional do cinema brasileiro

Pessoas

Em 2 de março, aconteceu a cerimônia do Oscar, premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, sediada nos Estados Unidos. Embora a premiação foque em filmes norte-americanos, profissionais do cinema do mundo todo tomam parte na votação dos vencedores e filmes estrangeiros podem ser indicados tanto nas categorias gerais quanto, mais comumente, para Melhor Filme Internacional. Esse é o caso de Ainda Estou Aqui (2024), longa dirigido por Walter Salles, que trouxe o primeiro Oscar para o Brasil com a vitória na categoria de Melhor Filme Internacional. O longa ganhou uma popularidade imensa após as indicações a Melhor Filme, Melhor Atriz (Fernanda Torres) e Melhor Filme Internacional, sendo o segundo filme mais visto nos EUA entre os indicados ao prêmio. 

Além da representação entre os filmes indicados, o Brasil marca presença na Academia com mais de 50 profissionais da área do cinema que são membros votantes da premiação. São atrizes, atores, diretoras e diretores, produtores, entre outros, que se destacaram por contribuições distintas em suas áreas, ou mesmo por já terem sido indicados ao Oscar. Dentre eles, há diversos egressos da ECA, profissionais que deram aqui os seus primeiros passos e agora contribuem para definir a premiação mais famosa do cinema. A seguir, você vai conhecer um pouco da trajetória de cada um deles, além de entender como funciona a entrada na Academia do Oscar. 

 

Como é a entrada na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas?

De acordo com o site oficial do Oscar, os artistas que querem entrar para a Academia devem ter seu nome sugerido por dois membros ativos da mesma área (atores, animação, fotografia, produção etc.). Essa recomendação é uma espécie de apadrinhamento, no qual os membros ativos fazem um primeiro contato on-line com a Academia para apresentar a pessoa candidata. Ademais, os indicados a prêmios nas categorias do Oscar são automaticamente considerados para a associação, sem precisar de recomendação por membros da Academia.

Os nomes de indicados ao Oscar e de profissionais sugeridos são revisados pelo comitê da área correspondente, formado por três membros cada e, então, considerados pelo conselho de diretores da Academia, que tem a palavra final sobre a admissão ou não do candidato.

 

Foto de dois adultos e duas crianças, todos brancos com cabelos lisos e olhos e cabelos castanhos, posando abraçados em uma praia. Na frente, há um menino  com cabelos curtos à esquerda  e uma menina com cabelos longos, à direita . Atrás das crianças, há um homem um pouco grisalho  sorrindo, ele veste camisa social clara e abraça uma mulher, com  cabelos de tamanho médio, blusa branca e expressão séria.
Ainda Estou Aqui (2024) é um filme nacional que reúne três indicações para o Oscar, o que tanto aumenta a popularidade do filme quanto o interesse do público pela premiação em 2025. Foto: Reprodução/Ainda Estou Aqui. 

 

Além disso, recomenda-se aos membros da Academia que indiquem novos membros apenas se houver a confiança de que a pessoa candidata “demonstra realizações excepcionais no campo do cinema”. 

 

Como é decidido quem ganha um Oscar?

Ao longo do ano, as produtoras podem submeter seus filmes para a lista de pré-seleção do Oscar. Para isso, é preciso que os filmes tenham sido exibidos por ao menos uma semana em um cinema comercial de Los Angeles entre 1 de Janeiro e 31 de dezembro do ano anterior.

Entre novembro e dezembro, o site da premiação fica aberto para que os membros ativos votem em seus filmes favoritos, que serão os indicados ao prêmio. Em seguida, há uma segunda votação — que nesse ano aconteceu entre 11 e 18 de fevereiro —, onde os filmes e profissionais indicados são apresentados em uma lista para os votantes, que a reordenam de acordo com sua preferência e o nome que ficar em primeiro lugar na maioria das listas é o vencedor.

Vale destacar que os membros da Academia votam sempre em duas categorias, a de Melhor Filme e a categoria da sua própria área (ator, diretor, etc).

Os critérios de admissão são semelhantes para a maioria das áreas. Para os atores, por exemplo, são os seguintes:

  • Ter crédito em ao menos três filmes lançados no cinema, dos quais ao menos um foi lançado nos últimos cinco anos, e dos quais todos são de um calibre que reflita os altos padrões da Academia;
  •  Ter sido indicado a um prêmio da Academia em alguma categoria de atuação;
  • Ter, no julgamento do comitê executivo da área, distinção única, mérito especial ou ter dado uma contribuição notável como ator de cinema.

 

Atender a qualquer um desses requisitos significa que o candidato está apto a ser indicado para o ingresso na Academia. Caso não seja aceito, é possível fazer novas tentativas sempre que as comissões forem abertas (o que ocorre durante a primavera do hemisfério norte). 

 


Conheça os ecanos que fazem parte da Academia do Oscar

Foto de mulher parda de cabelos médios e ondulados sorrindo. Ela veste um vestido vermelho e preto. O fundo é claro com alguns detalhes desfocados.
Foto: reprodução/Getty Images.

Maeve Jinkings

É atriz e preparadora de elenco, com trabalhos na TV, teatro e cinema. Formada pela Escola de Arte Dramática (EAD) da ECA, sua carreira começou no curta-metragem Dias (2001), tendo um maior reconhecimento a partir do longa O Som ao Redor (2013), indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2014, e pelo qual ganhou dois prêmios de Melhor Atriz Coadjuvante em festivais brasileiros. 

Mais recentemente, Maeve interpretou Dalva Gasparian em Ainda Estou Aqui. Além disso, ela é uma das indicadas da categoria Melhor Atriz Coadjuvante no Prêmio Platino de Cinema Ibero-Americano por sua atuação como a dona de casa Fátima em Sem Coração (2023), em que também trabalhou como preparadora de elenco.
 

Foto de homem negro falando ao microfone. Ele tem cabelos curtos, crespos e escuros, usa óculos com armação preta e quadrada, veste camisa estampada em cinza de mangas longas e tem um microfone na mão direita. O fundo é cinza.
Foto: Marcelo Casal Jr. 

Jeferson De 
Cineasta e diretor de TV, Jeferson De estudou no então curso de Cinema, atual cuso de Audiovisual da ECA, e foi bolsista da Fapesp com a pesquisa Diretores Cinematográficos Negros. Em 2000, publicou o manifesto Dogma Feijoada, onde reflete sobre as novas formas de debater a questão racial e a representação da negritude no cinema. Em 2001, seu curta Distraída pra Morte ganhou o prêmio de Melhor Montagem no Festival de Belo Horizonte

Seu longa-metragem de estreia Bróder (2010) foi selecionado no 60º Festival de Berlim e lançado no Brasil em abril de 2011, tendo recebido o prêmio de Melhor Filme pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e 11 indicações no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Atualmente, é diretor geral da novela Garota do Momento, da Globo. 

 

Foto de homem amarelo de meia idade sorrindo de frente para a câmera. Ele veste um terno preto e uma camisa branca e sua mão esquerda está pousada sobre o joelho esquerdo. O fundo é escuro.
Foto: Reprodução/mauosaki.com

Mauricio Osaki

Formado em Audiovisual pela ECA e mestre em Belas-Artes pela Universidade de Nova York (NYU), o cineasta e escritor foi premiado duas vezes como melhor diretor no Festival de Brasília, pelos curtas Quando Tudo Formiga (2004), e Lembrança (2009). Seu curta My Father 's Truck (2013) foi um dos premiados no 63º Festival de Berlim. 

Maurício se tornou membro da Academia após a indicação do curta-metragem My Father 's Truck , filme que dirigiu para o seu mestrado na NYU. Tendo em vista a sua graduação na ECA, Maurício comenta que os estudantes de Audiovisual “têm a vantagem de contar com um acesso sem precedentes a equipamentos e ferramentas de produção, algo que era muito mais restrito quando eu era estudante” e incentiva os novos ecanos a aproveitarem esses recursos: “Meu principal conselho é praticar intensamente, explorar diferentes formatos e narrativas e assistir a produções de diversas partes do mundo.” Além disso, “O audiovisual está em constante evolução, e há inúmeros caminhos para quem deseja construir uma carreira na área.” 

 

Foto de mulher branca sorrindo. Seus cabelos são curtos, lisos e levemente grisalhos. Ela usa óculos de armação redonda e escura e camisa verde com botões pretos. O fundo é azul claro e tem letras desfocadas.
Foto: reprodução/ Instagram.

Juliana Rojas

A cineasta e roteirista é formada em Cinema pela ECA, com especialização em roteiro, montagem e som. Em parceria com Marco Dutra, dirigiu o curta-metragem O Lençol Branco (2004), que foi o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da dupla, depois incluído na mostra Cinéfondation do Festival de Cannes. Seu primeiro longa-metragem, Trabalhar Cansa (2011), novamente em parceria com Dutra, também foi exibido em Cannes.

Em 2024, ganhou o prêmio de Melhor Direção na mostra Encounters do Festival de Berlim, com o longa-metragem Cidade; Campo, filme que explora a migração entre o urbano e o rural, costurando as histórias em busca de recomeços e autodescobertas. Ainda nesse mesmo ano,  Juliana foi convidada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para ser votante do Oscar na categoria Diretores.

 

Foto de mulher branca com a mão no queixo. Seus cabelos são longos, cacheados e castanhos, os olhos são castanhos. Ela usa um colar prateado, pulseiras coloridas e veste blusa vermelha. O fundo é escuro.
Foto: Reprodução/ papodecinema.com

Anna Muylaert

Mais conhecida pelo seu trabalho em Durval Discos (2002) e Que Horas Ela Volta? (2015), Anna é cineasta e roteirista, além de produtora de cinema e televisão. Ela estudou Cinema na ECA e seus primeiros trabalhos foram nos anos 1980, quando dirigiu curtas e publicou críticas de cinema em revistas.

Em 2016, Que Horas Ela Volta foi premiado no Festival Sundance, nos Estados Unidos, e no Festival de Berlim, na Alemanha, além de ter conquistado importantes prêmios nacionais, como o prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) e o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Mais recentemente, roteirizou o filme O Clube das Mulheres de Negócios (2024). 
 

Foto em semi perfil de mulher branca sorrindo. Seus olhos são castanhos e os cabelos longos, ondulados e também castanhos. Ao fundo, uma paisagem verde desfocada.
Foto: reprodução/Busca Vida Filmes.

Petra Costa

Petra Costa é cineasta e estudou Artes Cênicas na ECA por dois anos. Membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas desde 2018, suas obras foram premiadas em dezenas de festivais nacionais e internacionais.

Em seu documentário Elena (2012), Petra retrata a história de uma viagem de sua irmã à Nova York, que termina em seu suicídio. A obra  acumulou seis premiações no Festival de Brasília, incluindo a de Melhor Documentário e Melhor Direção. Em 2020, seu documentário Democracia em Vertigem (2019) foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário de Longa Metragem. Atualmente, está finalizando a produção de seu mais novo longa, Apocalipse nos Trópicos, que será lançado entre junho e julho deste ano. 


Mas afinal, qual é a relevância do Oscar para o Brasil?

Para o professor Carlos Augusto Calil , do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR), “O Oscar é a maior janela de publicidade da indústria internacional do cinema.”. Assim sendo, uma indicação e, eventualmente, uma premiação, permitem a comercialização de uma obra em escala mundial, multiplicando a renda dos filmes

Foto de homem branco sentado em cadeira. Seus cabelos são curtos e escuros e ele veste blazer e calças pretas com  camisa branca. O fundo é cinza.
Carlos Augusto Calil, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR) da ECA. Foto: Garapa Coletivo Multimídia.

Na opinião do professor, o principal problema dos filmes brasileiros é que eles, “na sua maioria, não têm vocação internacional. Com as exceções honrosas das obras de Karim Aïnouz, Kleber Mendonça, Fernando Meireles e Walter Salles, os filmes brasileiros não circulam pelo mundo.”

Uma das soluções que Calil aponta são as plataformas de streaming, que dão espaço para filmes brasileiros, em especial os de comédia, serem consumidos pelo mundo todo. Carlos exemplifica seu argumento com o caso da comédia brasileira Tudo Bem no Natal que Vem (2021), de Leandro Hassum, que foi sucesso na Rússia, graças à distribuição da Netflix. “Uma agradável surpresa”, segundo o docente.

Para o diretor Maurício Osaki, que é um dos ecanos na Academia e ex-aluno de Calil, “o Brasil precisa fortalecer sua indústria audiovisual, produzindo filmes que sensibilizem tanto o público nacional quanto o internacional.” Além disso, Maurício critica a dependência do cinema nacional de financiamentos estatais, o que torna a produção nacional menos competitiva. 

Assim como o professor Calil, Maurício salienta o baixo alcance de obras nacionais no cenário internacional e cita como o sucesso do audiovisual sul-coreano pode apontar caminhos para a produção brasileira

 

“Morando na Ásia, percebo que a presença do cinema brasileiro por aqui ainda é muito limitada. Embora diferenças geográficas e culturais possam ser um fator, a Coreia do Sul tem demonstrado que é possível romper barreiras e conquistar o mercado internacional com produções de alta qualidade. Olha como os doramas se popularizaram no Brasil.”

Maurício Osaki, diretor de cinema 

 

 

Escola de Arte Dramática marca presença no elenco de Ainda Estou Aqui

Além de Maeve Jinkings, outros egressos e dois estudantes da Escola de Arte Dramática (EAD) integram o elenco do filme de Walter Salles. Confira quem são eles: 

Estudantes e egressos da EAD no elenco de Ainda Estou Aqui

Foto de uma mulher negra de olhos escuros, cabelos crespos, escuros e volumosos. Ela usa maquiagem leve, blusa branca e olha para a câmera com a boca entreaberta. O fundo é cinza.

Aguida Aguiar é estudante da Escola de Arte Dramática (EAD) e faz o papel de Carla, escrevente do Fórum e leitora de Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva (Antonio Saboia). Foto: reprodução/Elenco Digital.

Foto de uma mulher branca de olhos escurso, cabelos ondulados e ruivos na altura do queixo. Ela usa blusa preta, brincos de pingentes grandes e maquiagem leve. Ela olha para a câmera com expressão neutra. O fundo é cinza.

Angela Ribeiro vive Manuela Carneiro da Cunha, uma professora e antropóloga que se torna uma aliada importante de Eunice Paiva (Fernanda Torres) na luta pelos direitos indígenas. Foto: reprodução/Casting Lab.

Foto de um homem branco de olhos azuis, cabelos brancos e barba e bigode grisalhos. Ele usa camisa azul e sorri levemente. Ao fundo, quadros e objetos de decoração.

Dan Stulbach interpreta Baby Bocayuva, um dos amigos e aliados de Rubens Paiva (Selton Mello). Foto: reprodução/Instagram.

Foto de um homem branco, de olhos azuis e cabelos castanhos. Ele usa blusa preta e olha para a câmera com expressão neutra. O fundo é cinza.

Augusto Trainotti é o jovem soldado que acompanha Eunice Paiva (Fernanda Torres) durante sua prisão no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi). Foto: reprodução/Elenco Digital.

Foto de um homem branco, de olhos castanhos, cabelos cacheados curtos e escuros e barba escura. Ele olha para a câmera com expressão neutra. O fundo é cinza.

Formado em Artes Cênicas com habilitação em Direção Teatral pela ECA, Caio Horowicz é atualmente estudante da EAD. No filme, ele vive Pimpão, um dos amigos de Vera Paiva (Valentina Herszage), filha mais velha de Eunice Paiva (Fernanda Torres) e Rubens Paiva (Selton Mello). Foto: reprodução/IMDb.

Foto de uma mulher parda, de olhos escuros, e cabelos escuros e cacheados com franja. Ela usa maguiagem leve, blusa preta e tem a cabeça apoiada sobre uma das mãos. Ela sorri levemente.

Maeve Jinkings interpreta a livreira Dalva Gasparian, amiga de Eunice Paiva (Fernanda Torres) e Rubens Paiva (Selton Mello). Foto: Leo Aversa.

 

 

 

Atualizado em 3 de março de 2025 para inclusão de informações sobre a vitória de Ainda Estou Aqui na categoria Melhor Filme Internacional. 

 

 


 Foto de capa: Reprodução/ Entre séries