Doze Cabeças e Uma Sentença: novo espetáculo da EAD em cartaz
Diretoras Paula Klein e Patrícia Gifford falam sobre os bastidores da peça e convidam para a temporada

“Algumas vidas valem mais do que outras? Qual é a cara de um assassino? Culpado ou inocente? Vítima ou criminoso? Um júri formado por doze pessoas se reúne para decidir, de forma unânime, se um jovem será absolvido ou condenado à pena de morte pelo assassinato brutal de seu pai.”
Trecho da sinopse de Doze Cabeças e Uma Sentença
A Turma 74 da Escola de Arte Dramática (EAD) está em cartaz com o espetáculo Doze Cabeças e Uma Sentença durante as primeiras duas semanas de julho. A peça conta com as diretoras convidadas Paula Klein e Patrícia Gifford e é uma adaptação do clássico filme 12 Homens e Uma Sentença, de 1957. A trama é repleta de conflitos e questionamentos sobre moral, valores e preconceitos, desafiando o julgamento dos espectadores.
A escolha do texto
Apesar de ter sido escrito na década de 50, o texto norte-americano 12 Homens e uma Sentença “se atualiza cruelmente no contexto atual”, afirmam as diretoras. Na narrativa, doze juradas devem decidir a culpabilidade de um jovem porto-riquenho, de 16 anos, acusado de assassinar o próprio pai. Onze das juradas têm plena certeza da culpa, mas uma delas insiste em investigar a história mais a fundo ao invés de sentenciar o jovem à pena de morte. No decorrer da trama, as certezas do júri, derivadas de preconceitos e juízos de valor ou de certa preguiça de pensamento, pouco a pouco vão se esvaindo.
Patrícia revela os paralelos da trama com o cenário atual no Brasil, no qual a justiça promove, injustamente, muita matança, o que é denunciado na peça. “A nossa justiça é seletiva, ela traz um preconceito de classe econômica, é uma justiça racista, moralista [...] Ela está muito longe da nossa realidade, basta olhar o nosso sistema carcerário, quem são as pessoas que estão lá e quem são os grandes criminosos no nosso país”.

“A peça foi escolhida pensando, também, que a turma passou pela pandemia, então tem algumas coisas na linguagem teatral que eles não experimentaram. A gente veio oferecer, então, o trabalho de interpretação a partir de um texto fechado e não a partir de histórias de vivências, para que eles saiam da escola com experiências variadas no teatro”. É o que relata Patrícia, ao afirmar que o texto também foi uma escolha certeira, tecnicamente falando, por oferecer pedagogicamente mais possibilidades de estudos no curto período de tempo destinado à montagem e por contemplar todos atores e atrizes com um trabalho mais profundo.
O elenco e suas diretoras

Patrícia Gifford, atriz, diretora e formadora. Foto: Amanda Ferreira/ LAC
Ambas as diretoras são egressas da ECA. Paula se graduou no Departamento de Artes Cênicas (CAC) e Patrícia na EAD. Georgette Fadel, diretora de elenco, também é formada na EAD e se junta ao trio de mulheres, todas integrantes da Companhia São Jorge de Variedades, originada na ECA, em 1998. O grupo teatral busca “discutir a contemporaneidade em sua diversidade e seus paradoxos, “fazendo arte da ocupação do espaço, da relação permeável com o público, da música ao vivo como elemento narrativo e sempre com uma grande sede pelas manifestações da cultura popular brasileira”, como conta a página oficial da companhia.
As diretoras contam que o convite da EAD foi uma grata surpresa, e afirmam ter ficado contentes com a possibilidade de trocar conhecimentos com os estudantes. “A São Jorge foi uma companhia que nasceu aqui dentro da USP, então é uma felicidade poder voltar e fazer esse intercâmbio de técnicas de trabalho com a nova geração de artistas que estão se formando”, diz Paula.

Paula Klein, atriz, cantora, artesã, professora, taróloga e compositora. Foto:Amanda Ferreira/ LAC
Paula e Patrícia compartilham os desafios de trabalhar com uma turma ainda muito abalada pelos efeitos da pandemia, que pesaram no trabalho e no emocional dos atores, mas que também proporcionaram um enorme processo de superação ao longo dos ensaios. Paula descreve os resultados como um trabalho muito feliz de interpretação, “A gente foi vendo os atores crescendo, ultrapassando limites a cada dia e eu acho que o que a gente conseguiu [...] é um elenco coeso, muito vivo, pulsante, com muita energia e muita gana”.
Vá ao teatro!
“Sim, o teatro muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo. A Turma 74 é um exemplo disso e é um enorme prazer trazer para o público esse exercício de interpretação, que é o resultado de um estudo técnico, teórico e prático misturado com aquela boa dose de anarquia dionisíaca que a gente adora.”
Paula Klein, elogio a Turma 74
A peça está em cartaz na Sala Alfredo Mesquita do Teatro Laboratório da ECA USP, dos dias 3 a 14 de julho. De quarta a sábado às 20h e domingos às 19h. A entrada é gratuita e a retirada dos ingressos ocorre uma hora antes do início do espetáculo.

* É uma escolha do espetáculo o uso do feminino genérico para marcação de plural.