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Apoio a periódicos científicos contribui para a democratização do conhecimento

Pesquisa em Ciências da Informação mostra como universidades do estado de São Paulo têm apoiado as publicações científicas

Comunidade

Os cadernos de laboratório de Marie Curie, prêmio Nobel de Química, precisam ser guardados em caixas de chumbo, porque ainda emitem radioatividade. Para evitar o risco de contaminação, é preciso usar roupas especiais para manusear os documentos. Mesmo com essa possibilidade, as pessoas se submetem aos perigos. Os motivos podem ser vários, mas um é essencial: estes cadernos são uma forma de registrar o fazer científico. 

Hoje, pesquisas podem ser documentadas de formas bem menos analógicas (e radioativas!). Além das monografias, dissertações e teses, os periódicos científicos também são de grande importância. Em sua dissertação de mestrado, orientada pela professora Daisy Pires Noronha, a pesquisadora Solange Alves Santana se dedicou a estudar como as universidades estaduais paulistas apoiam institucionalmente esse tipo de publicação. 

Através da pesquisa, a aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) concluiu que o apoio das instituições promove visibilidade e democratiza o acesso ao conhecimento científico. “As instituições percebem a importância de fortalecer os seus periódicos por meio de ações pontuais, como apoio financeiro, criação de portais de revistas, utilização de ferramentas para gerenciamento do fluxo editorial e capacitação e qualificação das equipes”, explica a pesquisadora. 

Em sua dissertação “Políticas e programas institucionais de apoio a periódicos científicos em universidades públicas estaduais paulistas: panorama histórico e indicadores de atividade”, Santana utiliza dois termos que por vezes podem ser confundidos. A política institucional é mais abrangente, oferecendo diretrizes gerais de planejamento, coordenação, execução e avaliação  dos programas, que por sua vez estão relacionados às ações propriamente ditas. 

A proposta inicial da pesquisadora era estudar as universidades federais, mas a existência de diferenças entre elas impediu que uma mesma metodologia fosse usada. As estaduais paulistas, por sua vez, possuem condições semelhantes entre si. A comparação, no entanto, não deve ser feita sem contextualização, adverte a pesquisadora. 

Isso se aplica também aos indicadores de atividade dos periódicos. No Brasil, o sistema Qualis é o mais célebre – divididas por área do conhecimento, as publicações são avaliadas anualmente conforme um sistema alfanumérico, sendo A1 o mais elevado e C o de peso zero. “É preciso sempre contextualizar. A periodicidade e o número de artigos variam e por isso é difícil fazer comparações”, diz Santana.

Em linhas gerais, os periódicos científicos são definidos como publicações editadas em fascículos com designação numérica e cronológica. Além disso, possuem também um registro, chamado de ISSN (Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas).

O surgimento desses documentos remonta ainda ao século 17, coincidindo com o incremento da ciência experimental. Desde então, os periódicos estiveram relacionados à formalização do processo de comunicação científica. 

A pesquisadora explica que eles também têm como função “salvaguardar com propriedade as descobertas científicas, estabelecer a propriedade intelectual, servir como fonte de informação para pesquisadores”. Além disso, os periódicos podem ser vistos como um importante instrumento para a manutenção do padrão e da qualidade da ciência. 

As universidades, ao darem apoio para essas publicações, confrontam o cenário brasileiro de instabilidade para os pesquisadores e pós-graduandos. “Com o estabelecimento das políticas [institucionais], temos um compromisso com a continuidade das ações”, conclui Santana. 

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