CMU | Departamento de Música



“Álbum de música em papel”, livro propõe escuta ativa da pandemia

Publicação do selo fonográfico BERRO reúne 32 artistas e propõe exercícios de escuta na forma de textos, imagens e poesia
 

Comunidade
Foto. O livro está em diagonal sobre uma superfície de madeira. A capa do livro é preenchida totalmente por uma foto em preto e branco, aparentemente de um parque, com uma larga calçada e árvores ao fundo e no entorno da calçada. No topo da capa à esquerda está escrito o nome do livro e no rodapé está escrito BERRO
32 Instruções para Escutar (n)a Pandemia.
Imagem: reprodução do site do BERRO

O livro 32 Instruções para Escutar (n)a Pandemia é um álbum de música em papel, que apresenta orientações sobre como experimentar processos musicais  relacionados à pandemia de covid-19. O livro contou com a participação de 32 artistas do Brasil, que tinham a missão de trazer, cada um em uma página, propostas de escuta de sons referentes ao período. A publicação foi a primeira nesse formato lançada pelo BERRO, selo fonográfico digital vinculado ao NuSom - Núcleo de Pesquisas em Sonologia da USP. O livro conta com a curadoria do professor Fernando Iazzetta, do Departamento de Música (CMU) da ECA e de Rui Chaves, pesquisador do NuSom.

 

32 formas de ativar a escuta 
 

“Não é um livro sobre música, mas é um livro com música”, é a definição do  professor Iazzetta para o livro sonoro lançado pelo BERRO. A publicação consiste em  um álbum de música, assim como outros projetos lançados pelo selo fonográfico, com a diferença de que se trata de um livro em que as canções não estão registradas em som, mas em papel.

Uma das principais motivações para a produção do livro foi a situação de isolamento imposta pela pandemia. Isso levou Iazzetta e Chaves a pensarem em outras formas de produzir música e arte sonora em um momento em que apresentações públicas não eram possíveis. Foi então que surgiu a ideia de convidar artistas do Brasil para criarem propostas de escuta em texto. 32 artistas responderam à chamada.

A partir das instruções dadas no livro, são propostos exercícios de ativação da escuta, que indicam, em 32 visões diferentes, formas de ouvir sons que antes não eram percebidos. Esses exercícios de escuta estão relacionados a questões referentes ao momento político vivido e à própria situação de isolamento durante a pandemia.
 

Para quem quer experimentar música
 

Cada uma das 32 instruções ocupa o espaço de uma página, seguindo um formato chamado de partitura de ação ou partitura verbal, que, conforme explica o professor Iazzetta “são partituras, não como a partitura tradicional da música, em que você escreve as notas”. São o que ele chama de  “partituras com instruções",  que trazem a possibilidade de que qualquer pessoa possa “produzir a sua própria música ou a partitura já é a própria música e é dada uma espécie de instrução de escuta.” 

Entre as partituras de ação, há diversas formas de se apresentar os exercícios de escuta, que incluem textos, imagens e até mesmo textos poéticos para ativar uma escuta da pandemia.  Sobre a diversidade de propostas, o professor destaca que “a força do livro é justamente ver (...) 32 artistas diferentes pensando a escuta do som, a escuta da música, ou a própria escuta imaginária num contexto de isolamento provocado pela pandemia.” 

E para quem ainda tem alguma dúvida sobre a experiência proposta pela leitura do livro, o docente fala que “é como se fosse um concerto ou uma exposição de arte (...) É como se fosse um CD que você comprou na loja, que, ao invés do som, ele tem palavras e desenhos.” Ele ressalta que o livro é voltado para todos os públicos, artistas ou não, e compara a experiência do livro à apreciação de uma exposição de arte, quando fala que “uma pessoa que está mais familiarizada com determinado repertório vai ter uma leitura diferente de uma pessoa que tem menos familiaridade, mas isso não impede que qualquer pessoa aprecie o que está lá.”

 

A proposta do selo fonográfico BERRO
 

Com coordenação de Fernando Iazzetta e Rui Chaves, o BERRO tem como principal objetivo trazer uma visão brasileira de arte sonora, em contraponto à predominância europeia. O que motivou a criação do selo fonográfico foi o livro Making It Heard: A History of Brazilian Sound Art (Fazendo-se Ouvir: uma História da Arte Sonora Brasileira, em tradução livre), lançado em 2019, que inspirou a série de álbuns Make It Heard, que traz exemplos sonoros do livro reunidos na plataforma bandcamp, junto com outras produções de arte sonora do BERRO. 

Logomarca do selo BERRO, que apresenta a palavra berro escrita em caixa alta, azul, sublinhada, aparentemente a mão e em aquarela.
Arte do logo do selo fonográfico BERRO
Imagem: reprodução do site do BERRO

O selo também pesquisa e dá visibilidade para produções de arte sonora que tenham relevância histórica, estética ou cultural, mas que por alguma razão estão inacessíveis, como “muita coisa que saiu em vinil em uma tiragem pequena e se perdeu, ou que nunca foi gravada, ou que o compositor gravou e está na casa dele (...) ou que o compositor morreu e esse material ficou com herdeiros, ou que está abrigado em bibliotecas e centros de pesquisa,” explica o docente. Cruzando pesquisa acadêmica e prática artística, o grupo desenvolve então projetos de pesquisa, recuperação e republicação dessas produções.

Para adquirir o livro 32 Instruções para Escutar (n)a Pandemia e conhecer outros conteúdos de produção sonora lançados pelo selo, acesse o  site do BERRO. Acesse também o site do NuSom para conhecer o núcleo de pesquisa e acompanhar as suas novidades.

 


Imagem de capa: página do livro 32 Instruções para Escutar (n)a Pandemia. Reprodução do site do BERRO.