CMU | Departamento de Música



Ecanos integram a primeira Orquestra Parassinfônica do mundo

Projeto voltado para músicos com deficiência conta com docente, estudante e egressos da ECA em sua composição
 

Comunidade

A Orquestra Parassinfônica de São Paulo (Opesp) foi criada em dezembro de 2022 pelo produtor cultural Igor Cayres com o objetivo de proporcionar protagonismo a musicistas com deficiência e, assim, a partir da música, contribuir para uma sociedade livre de preconceitos e estigmas. Até setembro deste ano, a Opesp se apresentou em diversas regiões de São Paulo e também no Rio de Janeiro em uma temporada de concertos. 

Foto de Marcelo Jaffé, um homem de pele branca, cabelos grisalhos e ondulados na altura do pescoço, tocando uma viola de arco. O instrumento está posicionado entre o seu queixo e tórax. Ele veste camisa preta.
Marcelo Jaffé, docente da ECA e professor de viola na Opesp. Imagem: reprodução/Opesp

“O ano de 2023 consolida e expande o alcance do projeto. A temporada mais longa aumenta a visibilidade e traz mais reflexão sobre o assunto da inclusão”, diz Marcelo Jaffé, professor de viola da Orquestra e docente do Departamento de Música (CMU). A iniciativa consolida a Opesp como a primeira orquestra do mundo a ser protagonizada por pessoas com deficiência (PCDs). 

Ele afirma que participava de aulas semanais com encontros em grupo para discussões profissionais e sociais que visavam fazer os musicistas compreenderem  seu papel na sociedade. Para o docente, ser parte da Opesp é motivo de muito orgulho e aprendizado

“Como pianista e professora de música, é um privilégio e uma honra fazer parte do Projeto Opesp, acrescentando aquilo que, em minha jornada musical, é uma das mais importantes missões com a música — o humano”, relata Aída Machado, coordenadora pedagógica da Opesp e mestre em Música pela ECA.

 

Tenho o privilégio de acompanhar o crescimento, em especial, das pessoas com deficiência que, independentemente de suas dificuldades, avançam em seu estudo e dedicação enquanto músicos. Com as pessoas sem deficiência acompanho a interação, a perda dos preconceitos e um movimento de transformação na forma de enxergar e conviver com o outro no exercício da empatia. 

Aída Machado, coordenadora da Opesp

 

Visibilidade para mais acessibilidade

Foto em preto e branco de Aída Machado, uma mulher de pele branca, cabelos claros curtos com os olhos semicerrados. Seu rosto está direcionado para baixo enquanto sorri.
Aída Machado, mestre em música pela ECA e coordenadora pedagógica da Opesp.  Imagem: reprodução/Opesp
 

Segundo Aída, um projeto “audacioso, não governamental e sem vinculação partidária como a Opesp enfrenta vários desafios”. As dificuldades vão desde a formação de um corpo docente comprometido com o trabalho especial até a necessidade de propiciar concertos acessíveis também ao público PCD. 

Apesar das adversidades, a coordenadora aponta que as conquistas ao longo do ano foram imensas. Como exemplos, ela cita o maior número de inscrições de músicos PCDs no processo de seleção, as parcerias estabelecidas, a excelência  do corpo docente e a divulgação da importância da “presença de músicos com deficiência e competência artística em um organismo orquestral”.

A coordenadora relata, ainda, que orquestras em geral não recebem pessoas com deficiência, uma vez que o acesso delas ao estudo de música é raro, assim como a existência de profissionais especializados e disponíveis para atender a demanda de PCDs. 

A Opesp vem preencher uma lacuna e comprova a importância de ser dada a oportunidade a que tantos talentos possam florescer. Desejamos que a Opesp seja um passo para que pessoas com deficiência que escolheram a música como linguagem possam crescer e trilhar seu caminho em direção a tudo o que desejarem fazer com música”, explica a musicista. 

Os preparativos para 2024 já foram iniciados. A Opesp pretende abrir novas vagas, continuando com o protagonismo de pessoas com deficiência.

Outros ecanos na Opesp

Além de Marcelo Jaffé, atual docente da ECA, Elizabeth Del Grande, professora de percussão da Opesp, foi docente convidada do CMU de 2002 a 2004.

Quanto aos membros da orquestra, alguns deles já passaram pela Orquestra de Câmara da ECA (Ocam), orquestra composta por estudantes do CMU e de cursos de extensão universitária. É o caso do violinista Igor Cavalcante e dos violistas Matheus Assunção e Wesley Vasconcelos.

Dois egressos da Escola também compõem a Orquestra: o fagotista Moisés Lessa, bacharel em Música, e Raphael de Noronha, bacharel em Violoncelo. Além deles, dois atuais estudantes da ECA fazem parte do projeto: Joyce Calegari, aluna do bacharelado em Viola e Christian Lavorenti, aluno do bacharelado em Flauta Transversal.

A experiência de um estudante da ECA na Opesp

“Tocar na Opesp vem sendo para mim desde o começo uma experiência maravilhosa”, diz Christian. Quando perguntado sobre os desafios de tocar na Orquestra, o flautista conta que a rotina de um músico é desafiadora por si só, seja pelas muitas horas de estudo, por questões técnicas de repertório, pela competição no mercado ou até mesmo pela exposição no momento da performance. 

Foto de Christian Lavorenti. Um rapaz de pele branca, cabelos curtos castanhos escuros, tocando flauta enquanto lê uma partitura que não aparece por completo na imagem. Ele veste uma camisa cor vinho.
Christian teve três meses de aula com o orientador Rogério Wolf. Os ensaios ocorriam duas vezes na semana antes do início da turnê e nos intervalos entre as viagens. O flautista explica que, assim como atletas, músicos precisam estar sempre em forma, mas cada profissional desenvolve uma rotina específica de estudos de acordo com suas demandas. Imagem: reprodução/Opesp
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Ainda que essa seja uma realidade difícil, ele a caracteriza como recompensante. “É extremamente gratificante perceber que cada minuto de estudo e de ensaio valeu a pena, pois dessa forma pudemos levar nossa música para muitos lugares e atingir muitas pessoas”, diz. 

Christian iniciou seus estudos de música no Coral Linda Juventude, em Extrema-MG, onde teve suas primeiras aulas de musicalização e flauta doce.  Depois desse período, começou a estudar flauta transversal. Em 2014, ingressou no Projeto Música para Todos, ainda em Extrema, onde participou da Orquestra e da Banda Sinfônica do projeto. 

Em 2018, ingressou na Escola Municipal de Música de São Paulo (EMM).  Christian conta que, naquele momento, já havia decidido seguir carreira na música. Ele prestou vestibular para o curso de música e ingressou na USP em 2020. 

Para o flautista, participar da temporada 2023 da Opesp foi uma experiência única e diferente do que já tinha vivido musicalmente. Além de ter crescido profissionalmente como integrante da Orquestra, Christian também menciona seu crescimento pessoal, resultante das relações de amizade que vem construindo com outros músicos do projeto e que, segundo ele, têm expandido seu olhar em relação à vivência de uma pessoa com deficiência.

 

“A Opesp nos apresenta a possibilidade da estruturação de uma orquestra mais inclusiva, mostrando que é possível se fazer música sem estabelecer distinções limitadoras entre PCDs e não PCDs, além de dar esperança às pessoas que gostariam de aprender um instrumento ou tocar numa orquestra, mas que imaginam não ser possível devido a um determinado diagnóstico”. 

Christian Lavorenti, estudante de Música e membro da Opesp

 

 

 

A Opesp conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo e da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. 
 

 

 


Imagem de capa: Instagram/opesp__