CTR | Departamento de Cinema, Rádio e Televisão



Alunos e ex-alunos exibem produções na Mostra de Cinema de Tiradentes

A luta por cotas na universidade e a música popular chinesa são os temas de dois dos curtas prestigiados no evento; um deles integra sessão no Cinesesc

 

Comunidade

As Placas São Invisíveis e Até o Último Sopro são dois curtas-metragens originados do curso de Audiovisual da ECA. Sendo o primeiro um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e o segundo uma produção de intercâmbio, os dois fizeram parte da Mostra de Cinema de Tiradentes deste ano. O festival, que ocorreu no mês de janeiro, teve como temática As Formas do Tempo.
 

As Placas São Invisíveis 

Retrato de uma mulher olhando para a câmera e sorrindo, sem mostrar os dentes. Ela é negra e possui cabelo castanho e cacheado, que está preso pela metade e jogado para o lado esquerdo do corpo. Ela veste uma blusa preta decotada e usa brincos compridos. O recorte da foto vai até a altura do peito e atrás dela há uma parede amarela.
 Gabrielle Ferreira, diretora de As Placas São Invisíveis. Foto: Arquivo Pessoal/Gabrielle Ferreira 
 

O documentário de Gabrielle Ferreira, resultado do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) orientado pelo professor Almir Almas, do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR), apresenta a visão de estudantes negras de diferentes cursos sobre a Universidade de São Paulo. “O filme foi captado em 2015, em um momento de ebulição da luta pró-cotas, dentro de uma das instituições mais elitizadas do país”, conta a sinopse disponível no site da mostra.

“Eu queria fazer um TCC documental que fosse ligado à minha experiência pessoal na universidade”, conta Gabrielle sobre o filme, captado majoritariamente em um momento em que os estudantes lutavam pela adesão do sistema de cotas raciais e sociais pela USP. “O documentário busca questionar por que não há espaço para negros dentro da Universidade de São Paulo”, completa. A USP só aderiu ao regime de cotas raciais em 2017, que entrou em vigor apenas a partir do vestibular de 2018. Com isso, a USP foi a última das grandes universidade públicas do país a implantar a reserva de vagas para cotistas.

Gabrielle conta que a Mostra de Cinema de Tiradentes foi o primeiro festival no qual o filme foi inscrito. Ela menciona que estava pouco esperançosa de que seu filme fosse selecionado, pelo fato da concorrência ser muito grande. “Eu fiquei extremamente honrada de poder exibir o curta no festival e de poder estar lá nesse momento. Foi muito legal explicar sobre o filme antes de sua exibição para o público, que era bem grande. Todos aplaudiram, antes e depois. Foi muito emocionante”. 

 

Foto de  uma parede bege texturizada com a frase “Cotas já!” escrita em stencil com tinta preta. Do lado direito,  o batente de uma porta marrom. A imagem aparenta ter sido captada à noite.
A USP foi a última grande universidade pública do país a aderir à Lei de Cotas. Foto: Mariane Nunes.
 

 

A produção do filme teve uma lacuna no tempo, explica a diretora. Captado quando Gabrielle estava para se formar, foi concluído  apenas em 2023 por questões pessoais. “O fato desse filme ter sido gravado há um certo tempo traz um resgate histórico do passado, mas que ainda conversa com o presente”.

O documentário ainda não está disponível na internet por conta de outros festivais em que foi inscrito e deve ser exibido. A diretora diz que, quando essa temporada passar, ela pretende exibir o filme na USP e em outras universidades. 

 

Até o Último Sopro 

retrato de um homem branco de barba escura. Seu cabelo é cacheado e preto com mechas loiras na parte da frente. Ele usa uma camiseta preta com um logo pequeno de contorno amarelo na altura do peito, uma corrente prateada comprida e fina e um óculos de armação também preta e formato arredondado. O recorte da foto vai até a altura do peito e ele não olha diretamente para a câmara, estando virado ligeiramente para a diagonal direita da imagem. Atrás dele há um fundo verde composto por plantas e uma estrutura de ferro que se assemelha a um corrimão de uma escada.
Benjamin Medeiros, diretor de Até o Último Sopro. Foto: Arquivo Pessoal/Benjamin Medeiros.
 

Benjamin Medeiros Diniz é aluno do sétimo semestre do curso de Audiovisual. Ele conta que Até o Último Sopro foi produzido e dirigido entre junho e julho de 2023 e faz parte do programa Looking China Youth Film Project, pelo qual alunos são selecionados para realizar curtas sobre a cultura chinesa. “É um trabalho em dupla com um aluno local, seja de universidades ou de escolas técnicas. Você atua como diretor e o estudante chinês te acompanha como produtor e tradutor”, completa.

O curta-metragem de Benjamin apresenta a Música Popular de Fuzhou, no nordeste da China, tocada principalmente  pelos habitantes do campo. Ele conta que a música retratada no filme é composta principalmente por instrumentos de sopro, como suona, grande suona, flauta dupla e sheng, mas também leva percussão como acompanhamento. “É tudo muito intenso. Ficamos lá apenas três semanas e nesse tempo precisei filmar, editar e exibir o filme”.

Benjamin inscreveu outros filmes além desse na mostra e não esperava que esse fosse ser selecionado. “Eu fiquei muito feliz. Fui pego de surpresa porque o resultado só sai depois de uns dois meses da inscrição”. Ele relata que o filme se encaixa no tema da Mostra de Cinema de Tiradentes deste ano por conta de seu formato. “É um documentário que consiste basicamente em uma montagem, que vai intercalando momentos musicais e formando um fluxo contínuo de música”. 

 

Na foto, seis pessoas de origem chinesa estão sentadas em bancos de plástico brancos, tocando instrumentos de sopro. À frente de cada uma delas,  há um tripé que segura um microfone. O grupo é composto por pessoas de diferentes gêneros que vestem roupas casuais, a maioria em tons de branco e preto. O chão está coberto por um carpete vermelho, e, ao fundo, há um painel colorido com números e palavras em chinês.
A música popular campestre busca se modernizar ao longo do tempo, mesclando instrumentos tradicionais com teclado e até música eletrônica. Foto: Arquivo pessoal/Benjamin Medeiros 

 

O documentário foi um dos poucos filmes selecionados para representar a Mostra de Cinema de Tiradentes no Itaú Cultural Play e permaneceu disponível até dia 9 de fevereiro gratuitamente. No dia 18 de março, às 17h30, o filme é exibido no Cinesesc por meio das sessões da Mostra de Tiradentes realizadas na capital paulista. Integrando a mostra de curtas Vertentes, a sessão é voltada a documentários realizados por cineastas do estado de São Paulo.

Após o fim de sua temporada de exibição em festivais, Benjamin pretende disponibilizar o curta ao público.

 

A Mostra de Cinema de Tiradentes 

A Mostra de Cinema de Tiradentes é um festival cinematográfico que acontece anualmente na cidade histórica de Tiradentes, Minas Gerais. Sua primeira edição ocorreu em janeiro de 1998 e buscava a retomada do cinema nacional, incentivando e difundindo as produções audiovisuais brasileiras. 

A edição de 2024 do evento esteve sob a coordenação de Raquel Hallak d’Angelo e apresentou uma programação abrangente e gratuita. Além das 61 sessões de cinema, a Mostra contou com diversas outras atividades que envolveram também outras linguagens do meio artístico. 

A Mostra Tiradentes é um evento renomado no cenário nacional e mundial, possuindo  muita importância para o audiovisual brasileiro. Caracterizada pelo ecletismo, a mostra busca apresentar os mais diversos tipos de produções “sem rótulos, sem receios de apresentar a produção brasileira como resposta ao país”, como cita o texto de apresentação da edição de 2024.  Além disso, o festival visa revelar novos profissionais com propostas inovadoras e realizar ações de formação a partir de oficinas profissionalizantes. 

A internacionalização do cinema nacional é outro objetivo do evento, contando com profissionais e curadores nacionais e estrangeiros. A mostra também inclui programas que pretendem difundir as novas produções brasileiras ao longo do globo, promovendo sua visibilidade e potencial criativo. Ser selecionado para a Mostra de Tiradentes pode ser uma porta de entrada tanto para outros festivais renomados do país quanto de fora dele. 

 

 

Por que é tão importante estar em uma mostra de cinema renomada? 

 

 Fotografia das pessoas ganhadoras de prêmios na Mostra Tiradentes. Aproximadamente 50 pessoas posam, algumas de pé ao fundo e outras sentadas à frente, em um tapete vermelho com bordas amarelas. A diversidade das pessoas e de suas roupas deixa a imagem colorida. Algumas pessoas sorriem e papeizinhos coloridos e brilhantes caem sobre elas. Ao fundo, está projetada a arte da 27a edição da Mostra de Cinema de Tiradentes. Em fundo amarelo, figuras geométricas nas cores rosa, vermelho, verde, azul e laranja causam a ilusão de projetarem para a frente quadros pretos com as informações do evento, sendo o nome e a data do evento no quadro maior e central.
Vencedores dos prêmios da 27a edição da Mostra de Cinema de Tiradentes. Foto: Leo Fontes/Divulgação

 

Benjamin Medeiros explica que ter um filme exibido em uma mostra de cinema de relevância nacional é muito importante para começar uma carreira no meio do audiovisual. “É uma espécie de networking que ajuda a conseguir contatos para produções futuras, além de ser muito importante para o currículo. O seu nome é divulgado tanto para as pessoas que trabalham no meio quanto para aqueles que consomem”, comenta. 

Ele afirma que o festival de Tiradentes tem uma tradição de lançar cineastas e diretores. Isso acontece uma vez que diferentes produções de um mesmo realizador podem ser passadas em anos consecutivos. “Ter seu filme selecionado para o evento conta muito para concorrer em futuros editais”, completa o estudante. 

Gabrielle Ferreira conta que o curso de Audiovisual da ECA desenvolve muitas habilidades que contribuem para que o aluno possa realizar suas próprias produções. “A graduação me proporcionou ter muito contato com todas as funções do audiovisual, tanto na parte teórica, mas, principalmente, na parte prática, em que pude aprender a manusear diversos equipamentos”.  Ela relata também que a possibilidade de fazer um Trabalho de Conclusão de Curso prático foi essencial para que ela tivesse a oportunidade de estar na Mostra de Cinema de Tiradentes, uma vez que o curta exibido foi exatamente o produto de seu TCC.

 

Outras produções ligadas à ECA no Festival 

O curta Se Eu Tô Aqui é Por Mistério, de Clari Ribeiro, foi roteirizado por Éri Sarmet, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais (PPGMPA) e também esteve presente na 27ª edição da mostra. O curta se passa em 2054, no Rio de Janeiro, e conta a história da travesti Dahlia. 

O longa Saideira, de Julio Taubkin e Pedro Arantes, formados em Audiovisual pela ECA, também marca presença. A produção conta a história de duas irmãs que se reencontram e partem para uma jornada pelo interior de Minas Gerais em busca de uma herança.

Outro filme exibido na mostra foi o curta Muito Permanece, de Jéssica Alves Vassaitis, graduada no curso de Educomunicação da ECA. A ficção intimista conta a história de uma mulher solitária vivendo em uma casa antiga.

 

 

*Atualizado em 14 de março de 2024 para inserir informações sobre sessão no Cinesesc.

 

 


Imagem de capa: montagem com imagem de arquivo pessoal de Benjamin Medeiros e cartaz feito por Ariédhiene Carvalho.