CTR | Departamento de Cinema, Rádio e Televisão



Cinemateca Brasileira: Departamento de Cinema, Rádio e Televisão se manifesta

“Para evitar novas tragédias, é imperioso que o governo federal assuma suas responsabilidades e tome medidas urgentes para que a Cinemateca seja reaberta”, diz o texto 

Comunidade

Na última quinta-feira, dia 29 de julho, um incêndio em um galpão da Cinemateca Brasileira destruiu importantes documentos sobre a história do cinema nacional e outros itens do acervo da instituição, incluindo filmes em 35mm e 16mm produzidos por estudantes do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR). 

Esse foi o mais recente episódio de uma crise financeira e administrativa que começou em 2014 e que vem se intensificando desde 2019, com a atual gestão do governo federal. 

Fundada pelo crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes, que lecionou na ECA, a Cinemateca guarda desde sua origem uma relação próxima com os professores e estudantes do CTR, que vêm participando de todas as mobilizações em prol da instituição. 

Confira a manifestação do CTR na íntegra: 

"São Paulo, 02 de agosto de 2021

    O Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo vem a público se manifestar em relação ao incêndio ocorrido em uma das sedes da Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

    Desde a criação de nossos cursos, há mais de 50 anos, dedicamos nossos esforços para tornar a Cinemateca uma das principais referências mundiais em preservação, com a participação ativa de nossos docentes e discentes, tanto na sua articulação, quanto na sua manutenção e gerenciamento, bem como no intercâmbio de filmes e equipamentos e na realização conjunta de cursos de formação. Sempre entendemos a sua importância e lutamos continuamente pela existência dessa instituição e de sua função de salvaguardar, preservar e difundir a nossa memória histórica audiovisual em todas as suas esferas de atuação.

    O incêndio que atingiu o galpão na sede da Vila Leopoldina é desastroso: rica e extensa documentação textual relativa às políticas públicas para o setor cinematográfico desde os anos 1960 se perdeu, assim como equipamentos e filmes em quantidade ainda incerta, muitos deles pertencentes ao nosso Departamento, segundo as primeiras informações que nos chegaram.

    Além de condenável, em todos os sentidos, esse acontecimento já previsível poderia ter sido evitado, se a política pública federal dialogasse com a sociedade civil e tomasse as providências necessárias apontadas por várias entidades e profissionais do setor. Mas, ao contrário, optou por protelar uma solução deixando a Cinemateca agonizando e correndo o risco de destruição do acervo, o que acabou acontecendo com parte dele em função do incêndio. O preço pago por tal desmonte é incalculável e as perdas serão sentidas pelas gerações de agora e do futuro.

    Diante dessa calamidade, expressamos nossa profunda indignação quanto ao descaso e o abandono dispensados pela Secretaria Especial de Cultura do governo federal à Cinemateca Brasileira.

    Este duro golpe que sofremos no dia 29 de julho passado não nos desviará da tarefa que se impõe: junto com a sociedade civil, é preciso redobrar nossa luta para que consigamos reverter esta situação calamitosa. Para evitar novas tragédias, é imperioso que o governo federal assuma suas responsabilidades e tome medidas urgentes para que a Cinemateca seja reaberta. A Cinemateca
Brasileira sobreviverá!

Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo"

 

Latas de rolos de filme espalhados sobre mesas
Rolos de filmes registrados por bombeiros que foram apagar incêndio da Cinemateca, quinto sofrido pela instituição. Foto: Corpo de Bombeiros / Polícia Militar do Estado de São Paulo.