Dora Mourão recebe título de professora emérita da ECA
Depoimentos durante a cerimônia de outorga destacaram as contribuições da docente para o ensino do audiovisual e fortalecimento de entidades do setor

Maria Dora Genis Mourão tornou-se a 21ª docente — e apenas a sétima mulher — a receber o título de professora emérita da ECA. A cerimônia de outorga, realizada no dia 22 de novembro, foi marcada pelo tom descontraído e por lembranças de momentos de seus 50 anos de carreira no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão (CTR).
“A história da Dora se confunde um pouco com a história do ensino da arte no Brasil”, disse Rubens Rewald, atual chefe do CTR, ao lembrar da trajetória da docente. Dora Mourão ingressou na ECA na segunda turma de Cinema (hoje denominado Curso Superior do Audiovisual), em 1968. À graduação, concluída em 1971, seguiu-se o mestrado, sob a orientação do professor Eduardo Peñuela, concluído em 1980, ano em que ingressou como Auxiliar de Ensino da ECA na área de Teoria e Prática da Montagem. O título de doutora veio em 1988, com a tese Que viva Eisenstein, cujo título faz referência ao cineasta soviético do filme Qué Viva México!. Em 1997, realiza o pós-doutorado na França, na Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais (EHESS) e, no ano seguinte, obtém o título de livre-docente. Em 2005, tornou-se professora titular do CTR, cargo que ocupou até 2022, ano de sua aposentadoria.
"Tornar-se professora emérita da ECA é o reconhecimento do impacto da sua atividade como docente, seja pelos cargos gerenciais e administrativos que você exerceu, seja pelo capital humano que você ajudou a formar ou, ainda, pela excelência dos trabalhos que você conduziu."
Brasilina Passarelli, diretora da ECA, sobre Dora Mourão
Professora, pesquisadora e gestora
Na USP e fora dela, a trajetória como docente e pesquisadora somou-se à experiência como gestora universitária e cultural. Dora Mourão foi chefe de departamento em três oportunidades (1989-1993, 2002-2006, 2013-2015), vice-diretora da ECA (2009-2013) e a fundadora e primeira diretora do Cinema da USP (Cinusp), cargo que ocupou por 14 anos (1993-2007). Na área do audiovisual, a docente passou pela presidência da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine) e do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual (Forcine). No cenário internacional, Dora Mourão foi presidente do Centre International de Liaison des Écoles de Cinéma et de Telévision (Cilect), entidade com mais de 70 anos que agrega as principais escolas de cinema do mundo. O Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA é a única escola brasileira associada à entidade.
Para o atual chefe do Departamento, todos esses espaços e outros que Dora Mourão ocupou foram transformados por sua passagem. “Todos concordam com essa visão, essa capacidade que a Dora possui de organização, de aglutinação e de pensamento que está sempre tentando entrelaçar pensamento acadêmico, gestão e tecnologia”. No CTR, em particular, a atuação da professora Dora como gestora significou a implementação de uma cultura de planejamento e organização de um fluxo de produção que, por sua vez, contribuíram para a qualificação do curso. “O nosso Curso Superior do Audiovisual dialoga com os melhores cursos de audiovisual do mundo em termos de organização, em termos de produção e em termos de pensamento. E eu acredito que muito disso deve-se à Maria Dora Mourão”, disse o professor Rubens. Junto com o pensamento de gestão, a própria homenageada ressalta o perfil integrador que se constituiu no CTR ao longo dos anos. “A gente não tem um formalismo, né? Nós temos um espírito no departamento que sempre foi um espírito — e eu vou repetir aqui uma palavra que se usou muito hoje — um espírito de família”, ressalta Dora.
O Jean-Claude [Bernardet, professor emérito da ECA] disse que eu tenho um perfil institucional, que eu vivo a instituição, que eu respiro a instituição. Isso é uma verdade. Eu passei aqui 50 anos da minha vida como professora e mais cinco anos como aluna. São 55 anos da minha vida aqui.
Dora Mourão, professora emérita da ECA
Trajetória de dedicação ao audiovisual inclui retomada da Cinemateca Brasileira
A professora emérita da ECA fez questão de falar sobre seu trabalho mais recente como diretora geral da Cinemateca Brasileira, cargo que ocupa desde fevereiro do ano passado. Na presença de dois ex-diretores da instituição — Patrícia de Filipe e Carlos Magalhães — a homenageada falou sobre os desafios na gestão da Cinemateca, que chegou a ficar fechada por um ano e meio por conta de uma grave crise financeira e política. “Eu estou me espelhando na administração, na direção deles, para fazer o renascimento da Cinemateca. E se ela está conseguindo renascer é por causa das sementes que vocês deixaram lá”, disse a professora Dora. O mandato como diretora da instituição é de quatro anos.
A entrega ao trabalho é, para a professora emérita da ECA, uma forma de mostrar dedicação ao que gosta de fazer. “Eu sempre digo — eu já disse hoje e outra vez repito — que eu gosto de me sentir útil, eu acho que tudo que eu fiz na minha trajetória foi com esse objetivo, de me sentir útil”.