Parceria entre USP, Unesp e Unicamp leva música a escolas públicas
Coletivos universitários compartilham metodologias para aprimorar ensino musical e promovem atividades didáticas para estudantes da educação básica

As Três Paulistas na Extensão é um projeto conjunto de coletivos das três universidades estaduais paulistas que têm na educação musical nas escolas públicas o foco de suas atividades extensionistas. São eles:
- Sabiá Laranjeira, do Departamento de Música (CMU), coordenado pelo professor Ivan Vilela e pelo estudante Fábio Ferreira, mestrando do Programa de Pós-graduação em Música (PPGMUS);
- o projeto Oficinas de Musicalização, liderado pela professora Adriana Mendes, do Instituto de Artes da Unicamp;
- e o Programa Música e Educação, coordenado pela professora Andreia Miranda de Moraes Nascimento, do Instituto de Artes da Unesp.
O projeto tem o intuito de aperfeiçoar as atividades de extensão e educação musical em curso nas três universidades e, ao mesmo tempo, estimular a troca de experiências entre os três grupos. Cada coletivo possui uma metodologia de trabalho própria, que é adaptada ao público a que se destina.
O professor Ivan Vilela explica que o contato com a música é muito importante para a formação das crianças: “quando se leva música para a escola, ela carrega uma série de outras atividades humanas, como a socialização”. Sob essa perspectiva, o projeto Sabiá Laranjeira realiza oficinas e “aulas-espetáculo” em escolas públicas localizadas majoritariamente na zona oeste da cidade de São Paulo. “Eu sugeri a mudança para ‘aula-espetáculo’, que é mais perto dessas pessoas, porque ‘concerto didático’ é uma coisa muito erudita, muito empolada para você ir para uma escola pública de periferia”, diz o docente.

O grupo realiza reuniões com estudantes bolsistas do projeto, que, por sua vez, preparam uma agenda de eventos nas escolas, sempre com a intenção de incorporar atividades musicais didáticas à rotina escolar. São atendidos pelo projeto estudantes da educação básica e da educação de jovens e adultos (EJA).
As Oficinas de Musicalização da Unicamp se dedicam ao desenvolvimento de aulas de música para crianças com idade entre 7 e 12 anos, envolvendo a prática de instrumentos, como flauta doce, violão, teclado e percussão. Parte do trabalho acontece nas dependências da Unicamp e em escolas públicas próximas ao campus da universidade, em Campinas.
O Programa Música e Educação possui três grandes linhas de atuação: Música e Acessibilidade, pela qual promove cursos de música para pessoas com deficiência; Educação Musical Aplicada, pela qual realiza oficinas de música a estudantes da educação básica; e Diálogos, pelo qual promove palestras sobre Educação Musical direcionadas a gestores da educação básica e estudantes de graduação e pós-graduação. Atualmente, o programa possui parcerias com o Memorial da América Latina e com o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo.
Os três projetos acontecem no âmbito de disciplinas de graduação com enfoque na formação de professores de música, atendendo aos critérios recentes de curricularização da extensão.
Encontros formativos
Com a intenção de promover a troca de saberes entre os três coletivos, em 2024, foram realizados quatro encontros formativos envolvendo estudantes de graduação, de pós-graduação e docentes de USP, Unesp e Unicamp. Nesses encontros, os integrantes se organizaram em grupos de discussão sobre os desafios da prática extensionista em escolas públicas, as demandas que surgem em cada uma delas e questões específicas ligadas à formação do professor de música. “Quando se trata de alunos da graduação, eles vão se deparar com várias demandas, inquietações e problemáticas no contexto do trabalho e, às vezes, eles precisam pesquisar e conversar com profissionais que têm mais experiência”, explica Fábio sobre o objetivo dos encontros.

Para o professor Ivan, é preciso capacitar os estudantes de música para atuar em cenários que dialoguem com a cultura brasileira: “para trabalhar em escolas em regiões de vulnerabilidade social, é muito complicado você levar um repertório de música europeia. É a ideia de Paulo Freire: adentrar a realidade das pessoas e depois trazer as pessoas para um outro lugar”, explica o docente. “Eles conversam sobre samba, sobre funk… É bem aberto. O importante é conversar sobre música, desmistificar conceitos e quebrar preconceitos”, comenta Fábio sobre a dinâmica das apresentações nas escolas.
Para Fábio, o projeto conjunto entre as três universidades reforça uma perspectiva de extensão universitária, na qual “tanto a universidade trabalha com uma transformação da escola, como também a escola trabalha uma transformação da universidade”. Isso pode ser observado a cada encontro do projeto, em que as discussões ficam mais aprofundadas com relatos de experiências sobre as práticas realizadas por cada coletivo.
Em 2025, o projeto prevê a realização de um quinto encontro, sediado na Unesp, no dia 26 de maio. Também será publicado um e-book de narrativas pedagógicas, com descrição das experiências dos estudantes de música em salas de aula e nos encontros de formação.
Fomento à cultura e extensão
As Três Paulistas na Extensão foi um dos projetos aprovados em um edital conjunto de fomento à extensão universitária na USP, Unesp e Unicamp. Os recursos recebidos viabilizaram a participação dos estudantes nos encontros formativos e custearam as apresentações musicais e oficinas realizadas durante todo o ano passado, e algumas atividades já ocorridas no início deste ano. O prazo para conclusão dos trabalhos é o final do primeiro semestre.
Foto de capa: divulgação/Sabiá Laranjeira.